03/04/2020
Atualizada: 03/04/2020 19:33:43


Em época de pandemia, o isolamento social ou o confinamento têm se destacado, mas queremos dizer que, antes do surgimento da Covid-19, doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 da família dos coronavírus, esse termo já estava presente no campo da saúde mental e também na vida dos pós-graduandos.

O termo confinamento pode ser entendido como isolamento, que pode ser voluntário (como por exemplo, confinamento de freiras ou monges) ou involuntário (como por exemplo a internação compulsória por uso de drogas). No campo da saúde mental, a temática não é nova, com mais de 7 mil publicações que tratam de confinamento, “internação compulsória” e “transtornos mentais”. Atualmente, os principais lugares de confinamento no campo da saúde mental no Brasil são os Hospitais Psiquiátricos, as Clínicas Involuntárias de Dependentes Químicos e as Comunidades Terapêuticas/acolhedoras.

Aqui em Alagoas, apenas para exemplificar um tipo de isolamento social voluntária, temos as Comunidades Acolhedoras, que são um dispositivo de isolamento de saúde mental que acolhe jovens usuários de drogas que desejam se tratar do uso abusivo de drogas, em uma média de tempo de seis meses. Nessas Instituições existem proibições, tais como: não pode ser utilizado celular, não se pode ouvir música que não seja religiosa, não pode haver relacionamento amoroso/sexual enquanto durar o tratamento, nem tampouco falar sobre sexo ou assistir filmes eróticos, dentre outras. Os usuários também são obrigados a seguir as regras da comunidade sob pena de ter o seu tratamento interrompido. Uma rígida rotina diária é imposta àqueles que são submetidos a este tipo de confinamento.

Nos chama atenção como nessa situação de isolamento nos perguntamos: como eles conseguem sobreviver e dar continuidade a regras e obrigações rígidas e perdem quase que completamente sua autonomia para acordar, comer, vestir e sair? Percebe-se que a rotina diária, a esperança que é só um tempo e que vai passar, o conhecimento de que várias pessoas também estão na mesma situação e que eles não estão sozinhos, podem explicar tal superação do regime de confinamento e a continuidade do tratamento. Esse mesmo pensamento pode ser aplicado na situação de isolamento que estamos vivendo atualmente.

Mas e na pós-graduação, qual a relação dela com a saúde mental e com o confinamento?

No âmbito da pós-graduação, o fenômeno do isolamento social antecede a pandemia atual, visto que esses estudantes se isolam socialmente por conviverem com cobrança pessoal elevada para um bom desempenho; medo de não atingir um resultado esperado por seu orientador e pela banca; pressão institucional para publicação de artigos; medo de ultrapassar o  prazo de defesa do seu produto; dificuldade em conciliar sua vida acadêmica com a familiar e pessoal (FARÓ, 2013).  Somando-se a isso, o isolamento social, que faz parte dos transtornos depressivos, se acentua ainda mais em meios exigentes, com elevadas cargas de estudo (SEIÇA; VITÓRIA, 2017).  Assim, a fadiga, privação de sono, sobrecarga de trabalho, medo de praticar erros contribuem para distúrbios “psicológicos, psicopatológicos e comportamentais”, pois para atender às grandes demandas e exigências da pós-graduação, os estudantes buscam o isolamento familiar e social elevando seu estado de confinamento (COSTA, 2007, p. 418).

Desta forma, queremos deixar a reflexão de que o confinamento se relaciona com o processo de saúde mental e também com a rotina da pós-graduação e que, para esses estudantes, o isolamento social já existia bem antes da pandemia do Covid-19. Ao mesmo tempo, frisamos que isolar-se pode provocar sofrimento psíquico e até problemas psicopatológicos, por isso, reforçamos a necessidade de: a) evitar o isolamento digital (sempre manter o diálogo com familiares e amigos); b) estabelecer uma rotina com horários para trabalhar, estudar e para o lazer só que dentro da própria casa; c) dar importância aos cuidados com o corpo físico (alimentação saudável, muita hidratação e atividade física) e d) seguir as formas preventivas do coronavírus preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Destacamos por fim que, em caso de sono persistente, desinteresse pela vida, falta ou excesso de apetite, taquicardia ou falta de ar, pensamento suicida, isolamento social e virtual é necessário procurar uma ajuda psicológica profissional. Como sugestão, em caso de necessidade de tratamento psicológico, indicamos que procurem profissionais que têm se disponibilizado a realizar atendimento voluntário online.

Em temos pode isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, relembramos que é necessário buscar um equilíbrio, com a organização da vida conforme as possibilidades. Cuidar de si e do outro implica em reconhecer o momento atual como mais uma possibilidade de aprendizagem sobre a vida.

 

REFERÊNCIAS

COSTA, Ana Lucia Siqueira. Estresse em estudantes de enfermagem: construção dos fatores determinantes. Revista Mineira de Enfermagem, v. 11, n. 4, p. 414-419, 2007.

FARO, André. Estresse e estressores na pós-graduação: estudo com mestrandos e doutorandos no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 1, p. 51-60, 2013.

SEIÇA, E; VITÓRIA, P. Relação entre perturbações afetivas e o suporte social em estudantes de Medicina da UBI. Journal of Child & Adolescent Psychology/Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente, v. 8, n. 1, 2017. p. 49-63.

Fonte: Prof. Dr. Fernando Silvio Cavalcante Pimentel (PPGE/Cedu/Ufal) e Me. Marcos Leandro da Silva (Psicólogo, doutorando no PPGE)

2024

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