20/03/2017
Atualizada: 20/03/2017 00:00:00


“Ser feminista é estar do lado da justiça, da liberdade, da dignidade humana, do respeito à integridade de cada pessoa. É rejeitar escravidão sexista, é negar discriminação e promover o bem-estar das pessoas, independentemente de gênero e de condição social”. (ELUF, 2000)

As transformações societárias nas últimas décadas foram marcantes no tocante ao lugar das mulheres na sociedade. Contudo, estas mudanças se configuram enquanto uma “modernização conservadora”, ou seja, os grandes acontecimentos políticos, sociais, econômicos e culturais modernos caminham lado a lado com as velhas e conservadoras divisões desiguais entre os sexos. Para as mulheres, o processo de industrialização traz na sua marca dois aspectos fundantes de uma “nova era”: se por um lado possibilitam as elas um trabalho fora do lar (exploração do trabalho feminino nas fábricas), por outro também rompe com sua clausura no espaço doméstico. Contudo, apesar da mulher entrar em diversos espaços sócio ocupacionais trazendo uma nova marca de gênero no espaço público elas continuam responsáveis pelos velhos papéis no âmbito do espaço privado. Ou seja, as mulheres entram no espaço público, contudo, continuam presas as funções e papéis que historicamente foram destinados a elas (mãe, esposa e dona de casa), assumindo assim uma dupla jornada de trabalho.

A construção política e social da nossa sociedade tem em sua base a constituição de um arquétipo viril como modelo dominante dos papéis sociais em que os homens são cidadãos plenos de direitos e as mulheres são cidadãs de segunda categoria, com direitos restritos. Neste modelo hegemônico do patriarcado assume-se um arquétipo viril de forma consciente e inconsciente por toda a sociedade criando um conjunto de crenças que formam um saber viril que assegura aos homens um status de saber e poder perpetuando uma visão androcêntrica na história, na política e nas relações sociais. Quando falo desse poder viril não me refiro a um sexismo que garantisse a partir do sexo (o masculino) a dominação, o poder. Não basta ser homem para ter esse poder em suas mãos. Precisa ter um conjunto de divisões sociais que compõem este modelo do arquétipo viril: o sexo, a idade, a classe social, a raça/etnia, a orientação sexual. Assim, estas matrizes configuram este modelo hegemônico de funcionamento da sociedade: o homem branco, adulto, rico, dominador e heterossexual. Como lembra Amparo Moreno (1986) é a relação direta entre a realidade social e a produção das explicações sobre a realidade, ou seja, as condições materiais de existência e a produção da ideologia. Assim, o androcêntrismo é produto da realidade ao passo que também é produtor desta realidade. Estas são as bases que acionam a máquina do patriarcado em que naturaliza as desigualdades sociais e políticas a partir do sexo, do biológico, do físico, do anatômico.

Precisamos construir uma nova cultura, a qual desde criança, possamos conviver numa relação igualitária entre homens e mulheres. Educar para a cidadania, para o respeito ao diferente, para viver em liberdade. Também é urgente políticas públicas que garantam creches, lavanderias públicas para realizar os serviços que ao longo da vida foram destinados a elas como obrigação, como papel da mulher. Só assim podemos construir uma verdadeira igualdade e equidade entre homens e mulheres.

É importante demarcar que nossa luta não é uma guerra entre homens e mulheres, mas sim uma luta contra a opressão, a exploração e a dominação masculina que tem em sua constituição um patriarcado que aliado ao capitalismo constitui um modelo de sociedade que exclui mais de metade da população: as mulheres. Assim, é fundamental entender que a luta feminista não é exclusiva das mulheres, mas sim um projeto de emancipação da sociedade como um todo. “Ser feminista é estar do lado da justiça, da liberdade, da dignidade humana, do respeito à integridade de cada pessoa. É rejeitar escravidão sexista, é negar discriminação e promover o bem-estar das pessoas, independentemente de gênero e de condição social”. (ELUF, 2000)

As organizações feministas, populares, classistas e socialistas de todo mundo estão convocando uma greve internacional das mulheres no dia 8 de março com o objetivo de defender os direitos das mulheres, lutar contra os retrocessos e as opressões, bem como combater a violência (seja ela econômica, institucional ou interpessoal). É nesta perspectiva que, aqui no Brasil, o 8 de março data histórica no marco da luta das mulheres terá como proposta para o ano de 2017 o enfrentamento direto aos retrocesso do Governo Golpista de Temer. Dentre os embates está a REFORMA DA PREVIDÊNCIA a qual as mulheres são as mais prejudicadas nesta reforma. Dentre as principais questões que afetam diretamente as mulheres temos a equiparação da idade mínima de 65 anos para homens e mulheres. As desigualdades de gênero na sociedade e no mundo do trabalho não são levadas em conta na aposentadoria, e foram ignoradas quando as novas regras foram pensadas.  As mulheres têm salários menores, trabalham mais, não tem oportunidades de promoção iguais aos dos homens. Além disso, elas estão nos empregos mais precários e ainda são elas, na grande maioria das vezes, as responsáveis pelos cuidados com a família e as tarefas domésticas.

Além das lutas gerais pela igualdade de direitos, é importante lembrar as nossas lutas locais contra o feminicídio presente em nosso estado. O Estado de Alagoas é o terceiro estado mais mata mulheres perdendo só para o Espírito Santos que tem uma taxa de 9,2 e empatando com Goiás.  A média do Brasil em 2011 é de 4,6 por 100 mil habitantes. Para as mulheres jovens, essa realidade ainda é mais cruel. Os dados de homicídios femininos da população jovem é de 7,1 para cada 100 mil habitantes no Brasil; enquanto que Alagoas ocupa o segundo lugar no país, com um percentual que é ainda mais elevado, chegando a 13,3 par cada 100 mil habitantes. Ao analisar as capitais, constata-se que a cidade de Maceió é a mais violenta com as mulheres, tendo uma taxa de homicídio de 12,0 para cada 100 mil mulheres. Para as mulheres jovens a realidade só se agrava, uma vez que a taxa é de 23,2 para cada 100 mil mulheres, ocupando, assim, o segundo lugar. (mapa da violência 2013)

Também é importante ressaltar que os recortes sociais aumentam as condições de vulnerabilidade das mulheres. Assim, a mulher pobre, negra, lésbica, rural acrescenta outras formas de subalternidade que se somam a violência de gênero.

Por isso, nossa luta é por uma emancipação humana a qual tenha como horizonte a luta de classe para a construção de uma sociedade não capitalista. Entendendo é claro a importância da emancipação política, econômica e cultural das mulheres como tarefa cotidiana no fazer revolucionário. Para isso precisamos está em estado de guerra contra o patriarcado, o capitalismo, o racismo e heteronormatividade.

Conclamamos as mulheres a construir este dia de greve geral internacional das mulheres para que possamos gritar: Não ao feminicídio! Não à violência contra a mulher! Não as desigualdades entre homens e mulheres! Por salários iguais e direitos iguais! Nenhum Direito a menos! Fora Temer Golpista! Não à Reforma da Previdência! Golpistas, Machistas Não Passarão!

Andréa Pacheco de Mesquita

Profa. Dra. do Curso de Serviço Social/UFAL e Líder do Grupo de Pesquisa Frida Kahlo


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