01/07/2013
Atualizada: 01/07/2013 00:00:00


 

OTribunal de Justiça (TJ-AL) chamou representantes do movimento para uma conversa, que deverá ocorrer na próxima segunda-feira (1º)

28/06/2013

 Rafael Soriano,

de Maceió (AL)

 Cerca de 4 mil trabalhadores e estudantes marcharam na tarde e noite desta quinta-feira (27) pelas ruas de Maceió (AL). Os manifestantes se concentraram em uma das maiores praças da cidade, a do Centenário, e bloquearam a avenida Fernandes Lima, maior via de tráfego do estado, levando o diálogo à população em geral e aos poderes constituídos com palavras de ordem na direção da redução imediata da atual tarifa de R$ 2,30 para o preço anterior R$ 2,10, e reivindicando o passe livre.

Apenas depois da quarta manifestação na cidade, em cujos momentos anteriores levaram a um pico de 30 mil manifestantes no maior dos atos, finalmente alguma sinalização do Poder Público se direcionou aos manifestantes. O Tribunal de Justiça (TJ-AL), responsável pelo último aumento por fora dos trâmites regulares e julgador da requisição realizada pelo sindicato dos empresários de ônibus (Transpal) de novo aumento da tarifa, chamou representantes do movimento para uma conversa.

Com a manifestação ocorrendo no mesmo momento, os representantes preferiram agendar o encontro para a próxima segunda-feira (01/07), onde apresentarão pauta unitária. Apesar de certa dispersão de alguns manifestantes em direção a um sem fim de pautas e do desinteresse de outros pelo aprofundamento político nos temas do ato, o foco durante toda manifestação desta quinta-feira foram os pontos definidos em assembleia, onde também se firmou a Frente Pelo Passe Livre em Maceió.

Entre as reivindicações, segundo avisava durante o protesto Magno Francisco, do Movimento Luta de Classes, “as principais são a exigência da redução imediata da tarifa de transporte para o valor de R$ 2,10, o passe livre e a estatização dos transportes públicos”. Além destes pontos, a assembleia do movimento também se posicionou contra o extermínio da população negra nas periferias da cidade e por uma reforma urbana com entrega imediata de áreas ocupadas.

Cerca de 4 mil ocuparam as ruas da capital alagoana, segundo organizadores - Foto: Eduardo Castro

Com manifestações pontuais de ateio de fogo em lixo, ao longo do trajeto, o ato seguiu pacificamente e com uma sucessão de palavras de ordem e muita animação. “Da Copa eu abro mão”, dizia uma delas, que concluía: “eu quero meu dinheiro pra saúde e educação”. Por volta das 20h, a avenida Fernandes Lima foi liberada pelos manifestantes, que se organizaram em dois grandes grupos e seguiram para os pontos de ônibus nos dois sentidos da via para realizar a ação do “Pula Catraca”, para seus diversos destinos.

 

Para muitos, é só um início

Entre os milhares que caminhavam nas ruas da capital Maceió, o professor do curso de filosofia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Sérgio Lessa, vê um forte fator “espontâneo” nos levantes atuais da sociedade brasileira. Apesar do perigo de direitização dos atos pela mobilização de uma sociedade há anos despolitizada, o filósofo marxista entende que “a diversificação das pautas que ganham as ruas, há anos represadas, nos abre uma possibilidade de levantar novamente a ideia de projeto de sociedade, que mude sistemicamente a sociabilidade. É hora de levantarmos a bandeira do Socialismo”.

Para Luiz Gomes, da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL), “temos que ir pra rua! O momento é esse. Nossa juventude abriu a porteira e agora os sindicatos, as organizações vêm entrar na rua com o povo, fazendo a sua pauta, indo à Brasília, cobrando dos prefeitos e governadores a pauta da classe trabalhadora". Quando perguntado se não passa da hora de uma formação política de fato para o povo, Luiz é enfático: “sem dúvida. Eu acho que o espaço é esse também, a rua, e ao mesmo tempo a reflexão. Está na hora de começarmos a criar plenárias de emergência, espaços de discussão, espaços de construção de alternativas que passem uma pauta da classe trabalhadora”.

“Dia 11 de juho, as centrais sindicais junto com os movimentos do campo estão na rua. É mais um momento importante para colocar a pauta da reforma agrária, da reforma urbana, do transporte, da saúde, da educação", conclui.

 

A batalha na formação pedagógica das massas

Polêmica entre os manifestantes, a manipulação da informação pela mídia no sentido de desmobilizar as revoltas populares por todo país foi assunto recorrente. Muitos entendem claramente as estratégias de tentar disputar o discurso da sociedade, “endireitando” os atos pela apolitização e sugestão de sua agenda de pautas.

Intervenção de agitação promovida durante atos anteriores em Maceió - Foto: Rose Dias

“A prova de que nosso protesto nesta segunda-feira incomodou foi que o ‘sistema Globo’ precisou em menos de 1 hora manipular a informação sobre o ato”, avalia Udson Pinheiro, do Centro Acadêmico de Teatro-Ufal. “O AL TV 2ª edição (antes da novela das 7) apresentou o total de 2 mil manifestantes, enquanto que no Jornal Nacional poucos minutos depois o número foi reduzido intencionalmente para 1 mil”, denuncia, também lembrando a manipulação ocorrida quando da marcha de 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro na ultima semana, na qual a emissora dos Marinho legou a “especialistas” a cifra de 100 mil pessoas.

No outro polo, intensifica-se a discussão de um programa sólido de agitação e propaganda que contribua para a politização dos momentos de rua, em linguagens populares que aprofundem o senso crítico. “Estamos começando a conversa entre os militantes desse campo sobre ocupar, mesmo, as ruas com a cultura e a arte. Já realizamos intervenções, programadas em reuniões que surgiram da mobilização on-line, mas ainda falta promovermos mais estes espaços menores de acúmulo”, diz o artista.

“Temos constatado que esta estratégia tem um grande potencial de envolver pessoas novas, ainda não organizadas em coletividade, o que já ocorreu tanto nos momentos de reuniões preparatórias das intervenções, como no momento e no calor do próprio ato”, aponta.

Foto: Eduardo Castro

Fonte: Brasil de Fato

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