Perguntam-me frequentemente por que nós, professores da Ufal, estamos em greve. Por isso, decidi escrever este pequeno artigo endereçado à sociedade alagoana. Quais são as condições de trabalho/aprendizagem ofertadas pelasuniversidades federais atualmente? Nossos salários estão tão defasados que a maior parte dos professores tem dificuldades de comprar livros ou de participar de eventos científicos, regularmente. Sem livros e sem encontros científicos não poderá haver universidade. Muitos professores têm uma carga horária de trabalho semanal sobre-humana. Orientam grande número de alunos – às vezes, mais de dez – de graduação, especialização, mestrado e, para alguns professores, de doutorado; desempenham diversas funções administrativas; realizam pesquisas; leem, obviamente; escrevem; apresentam trabalhos em eventos científicos; e dão consultorias grátis para órgãos públicos de Alagoas e de outros Estados. Frequentemente, toda essa carga de trabalho exige que se trabalhe das primeiras horas da manhã até, acreditem, meia-noite, e frequentemente, nos fins de semana.
Em que condições tais atividades são desenvolvidas? Frequentemente, nas mais precárias: há salas de permanência de professores e laboratórios com infiltração e mofo; muitas salas de aula têm ventiladores barulhentos, o que exige do professor competir com o barulho do ventilador, para se fazer ouvir; há muitos quadros negros sem a mínima condição de uso; faltam projetores; há cursos sem os requeridos laboratórios etc. Ah, já ia esquecendo – às vezes, professores compram, com o seu próprio dinheiro, projetores e aparelhos de ar-condicionado.
É nesse contexto que os professores da Ufal enfrentam diuturnamente o desafio de ensinar, pesquisar e atender à sociedade do seu entorno. E tudo isso com um plano de carreira que nos conduz a uma aposentadoria em condições precárias. A imagem que a sociedade normalmente tem do que deve ser uma verdadeira universidade no mundo contemporâneo não corresponde fidedignamente, em geral, às condições empíricas das universidades federais do Brasil atual, sexta maior economia do mundo. Claro, não fugiremos às nossas responsabilidades. Continuaremos trabalhando com dedicação, mesmo nas condições dadas. Mas é injusto com os professores. E com a sociedade em geral, que nos confia a formação profissional dos seus filhos. Foi diante desse quadro, e por um senso de necessidade, e de responsabilidade, que decidimos realizar a greve.
* Artigo publicado na Gazeta de Alagoas, nesta quarta-feira (22)
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